Após colapso da Americanas, modalidade que antecipa recebíveis ganha espaço no Brasil por oferecer agilidade, segurança e menor custo para quem vende. Entenda como funciona e por que tem sido usada por fintechs para financiar fornecedores com menos burocracia
Com o avanço das taxas de juros e o endurecimento das políticas de concessão de crédito por parte dos bancos, empresas de médio porte passaram a buscar alternativas mais ágeis e seguras para financiar suas operações. Nesse cenário, o risco sacado, uma modalidade de antecipação de recebíveis estruturada sobre o crédito do comprador, tem ganhado tração no ecossistema de fintechs, fundos e plataformas de crédito privado.
Diferente das operações tradicionais de factoring, nas quais o fornecedor arca com o risco de inadimplência, o risco sacado transfere a responsabilidade de pagamento para o comprador, também chamado de “sacado”, que passa a ser o centro da análise de crédito. Isso proporciona maior segurança ao financiador e liquidez imediata ao fornecedor, sem necessidade de recorrer a empréstimos diretos. A dinâmica envolve três partes: o fornecedor, o comprador e a instituição financeira ou plataforma de crédito. O fornecedor vende a prazo, mas precisa antecipar o valor. Em vez de recorrer a um empréstimo tradicional, ele cede os direitos de recebimento a uma fintech ou fundo, que antecipa o valor com base na análise de risco do comprador. Assim, o dinheiro entra no caixa do fornecedor imediatamente, enquanto o comprador paga o valor diretamente ao financiador na data acordada. A operação é formalizada por meio de cessão de crédito e aceite irrevogável, trazendo segurança jurídica ao processo.
“O risco sacado é um instrumento financeiro que, quando bem estruturado, beneficia todos os lados da operação. É como se o fornecedor dissesse: ‘não me analise, analise meu cliente que tem uma ótima reputação e vai pagar essa conta em 30 ou 60 dias’. Então, o fornecedor recebe à vista, o comprador mantém seu prazo de pagamento e o investidor atua com mais previsibilidade, porque analisa quem efetivamente vai pagar a conta”, explica Thiago Eik, CEO da Bankme, fintech que atua na estruturação de “Mini Bancos” para empresas operarem crédito próprio em todo o país.
Esse modelo, que já movimenta bilhões no Brasil, ganhou ainda mais relevância após o colapso contábil da Americanas, em 2023. O caso revelou inconsistências na forma como a companhia registrava passivos relacionados a antecipações, muitas delas baseadas em risco sacado, o que despertou atenção redobrada de investidores, reguladores e fundos de investimento. Paradoxalmente, o episódio serviu para acelerar a profissionalização do setor e a adoção de plataformas mais transparentes. Fundos estruturados, especialmente FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), passaram a ver no risco sacado uma oportunidade de diversificação com controle de risco, desde que lastreado por dados, análise rigorosa e tecnologia de monitoramento.
“Antes da crise, o risco sacado era pouco compreendido e, muitas vezes, mal registrado. Depois dela, virou foco de atenção, não pela fragilidade do modelo, mas porque ele precisa ser feito com responsabilidade. Hoje, os FIDCs que operam com risco sacado buscam exatamente isso: operações sérias, rastreáveis e com garantias claras”, reforça Eik.
Fintechs especializadas em crédito estruturado têm desempenhado papel central na popularização do risco sacado, ao oferecerem soluções completas de análise, formalização, integração com FIDCs e monitoramento da operação. Fundada em Londrina (PR), a Bankme é uma das pioneiras no país a permitir que empresas criem seus próprios “Mini Bancos”, estruturas completas de crédito privado com apoio regulatório e tecnológico. Com mais de 140 estruturas operando em 22 estados e movimentando mais de R$ 210 milhões em volume de crédito, a fintech vem democratizando o acesso a modelos de financiamento antes restritos a grandes corporações.
No contexto do risco sacado, a Bankme atua como facilitadora e gestora, estruturando as operações com base na análise do comprador, montando a formalização jurídica, conectando a operação a FIDCs parceiros ou investidores institucionais e acompanhando o ciclo completo. “A ideia é tirar a dependência de bancos tradicionais e dar autonomia para que médias empresas, que conhecem bem seus clientes, possam financiar sua própria cadeia com regras claras e risco bem posicionado. Muitas empresas já operam na prática como financeiras sem saber, o que falta é estrutura, governança e tecnologia”, completa o CEO da Bankme.
O funcionamento da solução é simples e direto. Imagine que uma empresa vende produtos ou serviços para outra empresa, mas o pagamento só vai acontecer daqui a 30, 60 ou 90 dias. Enquanto isso, ela precisa de dinheiro para pagar contas, comprar estoque ou investir no negócio. É nesse momento que entra a Bankme. Com o risco sacado, a fintech adianta esse dinheiro para o fornecedor com base no valor que o cliente, ou comprador, pagará no futuro. Assim, a empresa recebe rapidamente, enquanto o cliente mantém o prazo acordado e paga diretamente à Bankme.
Diferente de um empréstimo tradicional, que exige garantias pessoais como CPF ou imóveis, o risco sacado da Bankme analisa exclusivamente os dados e a saúde financeira da empresa compradora. Não é necessário usar o CPF do dono — apenas o CNPJ da empresa é suficiente. O processo é objetivo: a empresa vende um produto ou serviço, o cliente concorda em pagar no prazo combinado, a Bankme antecipa esse valor antes do vencimento e, no final, o cliente paga diretamente à fintech.
Esse modelo é ideal para empresas que vendem para outras empresas (B2B), precisam de dinheiro rápido sem burocracia e trabalham com vendas a prazo por meio de boleto, cartão ou duplicatas. Segmentos como comércio (lojas, distribuidoras), indústria (que vende para grandes redes) e serviços (marketing, consultorias) são alguns dos que mais se beneficiam da modalidade.
Entre as principais vantagens oferecidas pela Bankme estão a liberação rápida do dinheiro, com aprovação em até 24 horas, a ausência de garantias pessoais, já que não se utiliza o CPF ou bens dos sócios como garantia, e o pagamento flexível, em que o cliente mantém o prazo combinado, sem sufocar o fluxo de caixa da empresa fornecedora. Além disso, a fintech preza pela transparência, com a garantia de que não há taxas escondidas nem cobrança de IOF.
Sobre a Bankme
A Bankme é uma fintech que apoia médias empresas na superação dos desafios de crédito e gestão de caixa. Por meio da estruturação de Mini Bancos — operações de crédito internas e reguladas — as empresas podem antecipar recebíveis, alongar prazos e rentabilizar capital com mais autonomia. Utilizando instrumentos como debêntures e securitização, os Mini Bancos permitem que empresas financiem seus próprios parceiros, com recursos próprios ou de seu ecossistema. Em poucos dias, essas organizações passam a operar com mais eficiência financeira, reduzindo custos e criando novas fontes de receita. Atualmente, a Bankme conta com mais de 160 Mini Bancos ativos, R$ 1 bilhão sob gestão e registro na CVM, além do apoio de fundos como DOMO VC, Apex Partners e Bamboo.
Mariana Padilha (41) 99636-1212 [email protected]