Cultura do “dia de trabalho infinito” acende alerta sobre passivos e produtividade

Começar a trabalhar antes do café da manhã e seguir respondendo mensagens até depois das 22h virou parte da rotina de muita gente. Um relatório recente da Microsoft revelou que os dias estão mais longos, cheios de e-mails, reuniões e notificações. Não é só uma sensação: os dados mostram que os trabalhadores recebem em média 117 e-mails e 153 mensagens por dia, sendo interrompidos a cada dois minutos.

Essa falta de pausa e de limites está deixando muita gente esgotada. Quase metade dos trabalhadores e líderes entrevistados diz que o trabalho parece caótico e desconectado. Além do impacto na saúde, esse excesso também pode virar dor de cabeça para as empresas.

Jornada fora de controle pode gerar passivos

Ficar disponível fora do horário, mesmo sem um pedido explícito, pode ser entendido como hora extra. Quando essa rotina vira regra, sem controle ou compensação, aumenta o risco de ações trabalhistas. A lei garante o direito à desconexão, e isso precisa estar claro nas práticas e nas regras internas.

Outro problema é o excesso de reuniões em horários pouco produtivos. Boa parte delas acontece entre 9h e 11h ou 13h e 15h, justamente quando muita gente tem mais energia. Isso rouba tempo de foco e empurra tarefas importantes para a noite ou fim de semana. Se a empresa não organiza essa dinâmica, perde em entrega, engajamento e clima interno.

Trabalhadores mais cansados, empresas mais expostas

A pesquisa mostrou que 80% dos trabalhadores dizem não ter tempo nem energia para fazer bem o que precisam. Quando falta concentração, o trabalho se espalha pelo dia, o cansaço aumenta e os erros também. E não adianta empurrar tudo para ferramentas digitais: a quantidade de mensagens fora do expediente cresceu 15% em um ano, e quase um terço dos trabalhadores ainda está conectado às 22h.

Esse ritmo pode parecer eficiente no curto prazo, mas não se sustenta. Com mais estresse, cresce o número de afastamentos e a rotatividade. Além disso, empresas que não documentam corretamente a jornada, especialmente no home office, acabam mais vulneráveis legalmente.

O papel da negociação e da cultura interna

Boa parte desse cenário vem de modelos de trabalho que não mudaram com o tempo. A tecnologia permite outras formas de comunicação, mas o hábito de agendar reuniões para tudo continua. Em vez de facilitar, isso só cria mais sobrecarga. E, sem fronteiras claras, o trabalho vai invadindo todos os espaços.

É aqui que práticas bem definidas fazem diferença. Cláusulas sobre controle de jornada, desconexão e horários flexíveis já aparecem em alguns acordos coletivos. Acompanhando o Radar Sindical, é possível ver como sindicatos e empresas estão ajustando essas regras para a realidade atual, sem abrir mão de proteção legal.

Dá pra fazer diferente

A inteligência artificial pode ajudar com tarefas mais repetitivas e relatórios automáticos, mas sozinha não resolve o problema. O ponto principal é repensar a cultura da urgência e criar espaços de pausa, foco e trocas reais entre as pessoas.

Gestores e equipes de RH têm um papel importante nisso: definir prioridades, reduzir reuniões desnecessárias e estabelecer horários de comunicação mais claros. Plataformas como o Radar Sindical podem apoiar nesse caminho, com acesso fácil aos acordos e práticas que estão sendo adotadas no país.

Quando o trabalho ocupa todos os horários, algo está fora do lugar. Rever o jeito de organizar as tarefas e respeitar o tempo das pessoas é parte do cuidado com o time e também uma forma de proteger a empresa.

Nathália Pandeló
24999339680
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